Pensamento Radical
A alegoria da caverna de Platão (380 a.C.) serve como uma metáfora útil para o pensamento radical. Tal como uma pessoa se liberta das suas correntes e sai da caverna para descobrir uma realidade para além das sombras, o pensamento radical liberta dos limites do pensamento convencional para explorar perspectivas novas e transformadoras.
O pensamento radical é um processo de reflexão profunda que questiona as raízes dos problemas e procura soluções. Na academia, o pensamento radical é enquadrável no campo de estudos da Teoria Crítica onde se destacam figuras como Angela Davis, Ivan Illich, Judith Butler, Paulo Freire, Chantal Mouffe, Achille Mbembe e muitas outras. No pensamento radical desafiam-se as normas, propõem-se visões alternativas para o mundo, questionam-se fronteiras, sistemas de poder e modelos educacionais.
São comuns os equívocos sobre o que é "pensamento radical". Com a disseminação de políticas de "prevenção da radicalização" - na sequência de ataques terroristas como o 11 de setembro ou o 11-M - aprofundou-se a estigmatização do termo "radical", que ganhou um significado próximo ao "terrorismo" ou à "violência". Também o discurso antissistémico de alguns movimentos políticos contribui para a ambiguidade do termo. Tal como o pensamento radical se distingue profundamente do extremismo violento, também se distingue profundamente do radicalismo antidialógico e segregacionista. A tradição do pensamento radical defende uma sociedade mais justa, dialógica, pacifista e equitativa.
No seu "Realismo Capitalista", Mark Fisher demonstra como é atualmente "mais fácil imaginar o fim do mundo do que imaginar o fim do capitalismo". Para além da hegemonia positivista, outros fenómenos de alienação social adensam-se - a aceleração social, a sociedade do cansaço, o tecnocapitalismo, etc. Por estas razões, é fundamental a criação de espaços seguros para o pensamento radical, permeabilizando os limites do imaginário social e formando utopias alternativas - para que não seja mais fácil imaginar o fim do mundo do que imaginar um mundo melhor.
Ler mais sobre "A Desradicalização da Sociedade" (Plataforma Portuguesa das ONGD, 2022)